Mural Léo Flach

Concepção do Mural
O mural realizado no muro frontal da escola foi desenvolvido a partir de uma oficina de muralismo com os alunos. Durante essa atividade, eles desenharam figuras humanas, elementos da fauna e da flora, e também conversamos sobre o que gostariam que fosse representado na arte final.
A composição reúne elementos que nasceram desse processo coletivo, incorporando alguns dos desenhos originais, interceptados por quadros coloridos que funcionam como janelas visuais. Esses quadros simbolizam diferentes formas de ver e sentir o mundo — olhares únicos que ora aparecem isolados, ora se encontram, como nas interseções entre as formas ao longo do mural.Ao centro da obra, a imagem de uma adolescente sorridente com uniforme escolar representa os próprios alunos, suas histórias e seus sonhos em construção. A presença da mochila reforça a ideia de caminho, de movimento, de um futuro que está sendo trilhado a partir da escola.
Entre os elementos que compõem a cena, destacam-se os pássaros — presentes tanto nos desenhos dos estudantes quanto nas ruas do bairro, que em sua maioria levam nomes de aves. Essa escolha conecta simbolicamente o mural à comunidade, reforçando a identidade local e o sentimento de pertencimento.
Um detalhe especial é o pássaro no quadro amarelo, que será pintado com traços manuais, em estilo de lápis ou caneta. Essa decisão foi inspirada nos próprios alunos, que durante a oficina compartilharam a preferência por esse tipo de desenho. Ao lado, o fundo azul com o qual ele se mescla representa a integração entre o gesto individual e o coletivo, entre o feito à mão e a composição gráfica do mural.

A oficina de Muralismo
Antes que o muro ganhasse cor, ele foi espaço de troca, escuta e criação coletiva. A oficina de muralismo aconteceu no dia 07 de abril com alunos de 12 a 17 anos do Colégio Estadual Professor Léo Flach, e teve como objetivo apresentar a história do muralismo e a arte urbana como forma de expressão, pertencimento e transformação.
Durante uma tarde inteira, falamos sobre murais históricos, referências contemporâneas, cores e composição. Os alunos desenharam figuras humanas, elementos da natureza e símbolos que representavam sua vivência no bairro e na escola. Foi a partir desses desenhos que nasceu a ideia do mural: uma construção feita a muitas mãos, onde cada detalhe carrega um pedaço de quem participou.
Além da pintura mural, também exploramos outras possibilidades de atuação com a arte, como pintura em tecido, customização de roupas e caminhos possíveis para tornar a criatividade uma fonte de renda e autonomia.
A oficina foi o ponto de partida para tudo o que veio depois — e é impossível olhar para o mural e não ver, ali, as vozes, os gestos e os olhares de cada estudante que fez parte desse processo.
Palavra da Artista:
Foi incrível passar uma tarde falando sobre arte e reforçando aquilo em que mais acredito: que a arte deve estar presente na rotina das pessoas, nos bairros, nas comunidades. A oficina não foi apenas sobre ensinar técnicas, mas sobre construir juntos uma narrativa visual que representasse quem eles são. Ver tantos olhos curiosos e cheios de vontade me encheu de energia para seguir com esse propósito — o de democratizar ainda mais o acesso à arte.”— Aline Krupkoski









O Dia da Pintura
Depois da oficina, chegou o momento de levar para o muro tudo aquilo que foi construído coletivamente em sala. No dia 17 de abril, os alunos colocaram a mão na massa — ou melhor, na tinta — e iniciaram a pintura do mural coletivo que transformaria a fachada da escola.
Durante dois turnos, manhã e tarde, os estudantes participaram ativamente da transferência dos desenhos para a parede e da aplicação das primeiras camadas de cor. Foi um dia de envolvimento verdadeiro: os olhos atentos, as conversas entre pinceladas, a alegria de ver os próprios traços ganhando escala real.
Nos dias posteriores, a artista responsável finalizou o mural com cuidado: ajustes, acabamentos e a aplicação da resina protetora foram feitos com atenção a cada detalhe. Assim, o mural ganhou solidez e durabilidade, permanecendo como um marco visual para toda a comunidade escolar e para quem passa pela rua.
A pintura se tornou mais do que uma obra — virou símbolo de participação, expressão e pertencimento.

O que fica depois da tinta
Mais do que uma parede colorida, esse mural carrega histórias, encontros e descobertas. Cada forma ali pintada foi antes imaginada por um estudante. Cada cor escolhida passou pelas mãos de alguém que, até então, talvez nunca tivesse se visto como artista.
O que fica depois da tinta é o registro de um processo coletivo e afetivo. É a lembrança de que a arte pode — e deve — ocupar os espaços cotidianos, transformar olhares, valorizar memórias e fortalecer vínculos com o lugar onde vivemos.
Fica também a vontade de seguir multiplicando essas experiências: de pintar outros muros, ouvir outras histórias e seguir reafirmando que a arte pertence a todos — e pode nascer onde menos se espera.